terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Uma Epopeia Brasileira: a Coluna Prestes


  • Sobre a autora: Anita Leocádia Benário Prestes nasceu em Berlim, no campo de concentração feminino de Barnimstrasse, e é filha dos revolucionários comunistas Olga Benário e Luís Carlos Prestes. Separada de sua mãe, presa política do Nazismo, após o período de amamentação Anita só seria entregue a avó paterna (Leocádia Prestes) depois de uma luta de âmbito internacional chamada Campanha Prestes. Ainda jovem, só voltaria ao Brasil após o fim do Estado Novo. Como acadêmica, Anita Prestes graduou-se em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e se tornaria mestre em Química Orgânica pela mesma universidade. Exilada nos anos 70, rumou para a URSS onde faria doutorado em Economia e Filosofia pelo Instituto de Ciências Sociais de Moscou. Anistiada, volta ao Brasil onde faz outro doutorado. Dessa vez em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Foi professora de História do Brasil pela UFRJ onde se aposentou em 2007. Entre suas principais obras, podemos citar: a) Luís Carlos Prestes: o combate por um partido revolucionário (1958-1990); b) Luís Carlos Prestes: um comunista brasileiro; c) Olga Benário Prestes: uma comunista nos arquivos da Gestapo. 



Uma Epopeia Brasileira: a Coluna Prestes - Anita Leocádia Prestes - Editora Expressão Popular




Introdução - Nesta pequena introdução, a autora já mostra com bastante clareza o objetivo de sua obra: resgatar a história da Coluna Preste e, de certa forma, do movimento tenentista que agitou o Brasil durante os anos 20. Relegada ao esquecimento, com fraco número de pesquisas a temática da Coluna Prestes foi durante anos esquecida. Até os próprios dirigentes da coluna "se esqueceram do seu passado" e foram omissos a esse acontecimento histórico. O motivo desse esquecimento para Anita é bem claro: a subversão do seu principal líder, Luís Carlos Prestes, que acabou não tomando partido na Revolução de 30 e ainda acabou se filiando ao Partido Comunista do Brasil (PCB) onde foi dirigente político durante décadas. Lembrar de um acontecimento liderado por um comunista (mesmo que na época da coluna, Prestes ainda não tinha se enveredado pelo Marxismo) e que ainda por cima não teve como desfecho a derrota para as forças governistas não seria interessante as classes dominantes do país. Com isso, seu objetivo é trazer um debate sobre a Coluna Prestes, buscando combater seu esquecimento. O livro que será resumido logo abaixo tem 09 capítulos, são eles: 01) Os 18 do Forte; 02) O tenentismo: fruto da crise da República Velha; 03) A rebelião de 1924 em São Paulo; 04) O levante no Rio Grande do Sul; 05) A organização inicial da Coluna; 06) O rompimento do cerco de São Luís e a marcha para o Norte; 07) A travessia de Santa Catarina e Paraná e a incorporação dos rebeldes paulistas à Coluna; 08) A passagem por Mato Grosso, Minas e Goiás e a reorganização da Coluna; 09) A travessia da Bahia, a marcha para o exílio e o fracasso do combate governista à Coluna. Por fim, Anita encerra a obra com uma breve conclusão. 

Capítulo 01 - Os 18 do Forte

Estava combinado entre a oficialidade rebelde que deveria eclodir levantes nas unidades militares no dia 05 de julho de 1922. Por falta de organização, vários oficiais desistiram de última hora do ato. Com isso, apenas algumas unidades se levantaram. Dentre todos os estados, apenas em Campo Grande (MT) e Rio de Janeiro (RJ) tivemos levantes militares. Em Campo Grande, Niterói e na Escola Militar do Realengo os levantes foram rapidamente sufocados. A única unidade militar que se organizou para o evento foram os rebeldes do Forte de Copacabana que resistiram por mais de 24h. Após várias hostilidades, o comandante Euclides Hermes da Fonseca sai da sua base e aceita abrir um diálogo com as forças legalistas. Preso, viu seus companheiros serem ameaçados pelas tropas do presidente Epitácio Pessoa que de forma intransigente só aceitava a rendição total dos rebeldes. Não aceitando a rendição, o comandante Siqueira Campos decidiu reunir seus homens e ir de peito aberto em encontro as tropas legalistas. Apenas 18 decidiram resistir e esses homens saíram de peito aberto, pela orla de Copacabana ao encontro das tropas inimigas que os trucidaram ficando apenas dois vivos: Siqueira Campos e Eduardo Gomes. O primeiro, futuramente, participante da Coluna Prestes. Apesar da derrota, a atitude dos rebeldes ganharam simpatia popular sendo sinônimo de bravura. 

Mas qual o motivo desse levante? Em março de 1922 tinha ocorrido eleições que garantiram a vitória de Artur Bernardes. A vitória foi num pleito eleitoral desorganizado, tendencioso e imoral característico da República Velha onde sequer o segredo do voto era garantido. Nesse cenário de cartas marcadas, os jovens militares desejavam eleições mais transparentes onde a oposição tivesse chances reais de vencer. Desejavam a moralização dos políticos e tinham como proposta imediata a implementação do voto secreto. Os rebeldes "queriam, emfim "representação e justiça", ou seja, o saneamento da vida pública nacional" (PRESTES, Anita Leocádia. São Paulo, Expressão Popular, 2009, p. 18). Antes das eleições, ocorreu um fato curioso: as famosas "cartas falsas" que de autoria de Artur Bernardes apresentavam uma série de críticas aos militares, inclusive, acusações de que eram corruptos. É bem verdade que essas cartas foram falsificadas, como foi provado em seguida, mas o incômodo entre as Forças Armadas havia sido implantado. Com isso foi formada nas eleições de 1922 a chamada Reação Republicana, uma frente política de apoio a candidatura oposicionista representada por Nilo Peçanha. Nilo ganhou simpatia das camadas médias urbanas e dos militares ao propor que o Ministério da Guerra e da Marinha teriam comando de militares (estavam entregues a civis no Governo Epitácio Pessoa). 

Com a derrota de Nilo Peçanha, vitória de Artur Bernardes e consequente reconhecimento de sua vitória os militares não enxergaram outra forma de chegar ao poder a não ser pegando em armas. Logo, o objetivo do que ficou conhecido como Revolta dos 18 do Forte de Copacabana era simples: depor Epitácio Pessoa, impedir a posse de Artur Bernardes marcada para novembro e através de Nilo Peçanha liderar uma moralização das instituições. A ação deu errada, Artur Bernardes foi empossado, mas a chama da rebeldia havia sido acesa em Copacabana. 

Capítulo 02 - O tenentismo: fruto da crise da República Velha

Antes de adentrar nas nuances do tenentismo, Anita faz um breve resumo histórico que vai do final do Século XIX aos anos 20. Já no Brasil Imperial o café era o principal produto exportador do país, tendo duas bases de poderio econômico: os cafeicultores do Vale da Paraíba (equivalente a parte de São Paulo e parte do Rio de Janeiro) e os cafeicultores do oeste de São Paulo. Esses últimos, em crescimento, não aguentavam mais os altos impostos cobrados pelo império e se espelhando no federalismo norte-americano passaram a agir em prol da república. A busca era a autonomia provincial e com isso esses últimos cafeicultores deram apoio as lideranças que viriam a proclamar a República em 1889, derrubando D. Pedro II. Após dois presidentes militares, o estado de São Paulo assume de fato o Poder Executivo a partir do Governo Prudente de Morais. Seu sucessor, Campos Sales, implementa a chamada Política dos Governadores que era troca de favores entre presidentes e governadores dos estados. Enquanto os governadores garantiam apoio de suas bancadas ao presidente, esse ficava encarregado de aceitar os resultados eleitorais (então forjados) nos estados. Em suma, "forjou-se desse modo a combinação da Constituição de 1891, teoricamente baseada no federalismo, com uma prática apoiada no poder dos "coronéis" e no atendimento das exigências dos grupos oligárquicos locais" (PRESTES, Anita Leocádia. São Paulo, Expressão Popular, 2009, p. 27). Não podendo dispensar o estado de Minas Gerais, o mais populoso do país à época, surge a Política do Café com Leite onde ocorreria um revezamento entre esses dois estados na presidência do país. Foi assim que a oligarquia cafeeira paulista alicerçou sua hegemonia no que hoje conhecemos como República Velha. Porém, a própria política de defesa dos cafeicultores, levaria à crise do sistema oligárquico tendo em vista as constantes superproduções que o produto acarretava. O excedente era comprado pelos estados produtores, garantindo o lucro dos cafeicultores, mas aumentando o custo de vida do restante da população. Essa crise, gerando fome e desemprego, aumentaria durante os anos 20 tendo em vista a urbanização que o país passava fazendo entrar em cena outras classes sociais como o emergente proletariado urbano e as classes médias 

Após toda essa importante contextualização, Anita indaga: em meio à crise geral, por que os tenentes que liderariam a oposição? Para responder essa pergunta, ela faz uma breve análise da situação real das classes sociais presentes na Primeira República. A começar pelo movimento operário, então embrionário no Brasil e restrito a algumas cidades pois o lento processo de industrialização não afetava todos os estados ou regiões. Centrado nos principais centros urbanos do país, o movimento operário além de pequeno numericamente encontrava uma forte repressão do Estado. Era, pois, impossível liderarem uma oposição aos oligarcas. As oligarquias dissidentes (principalmente Rio Grande do Sul e, depois, Minas Gerais e a Paraíba) se limitavam a fazer uma oposição formal sem qualquer intenção de radicalizar o processo político. Seu temor pelo envolvimento popular na política, fazia esses setores se oporem à crise sob métodos tradicionais. A esmagadora maioria da população brasileira estava no campo, porém, a massa camponesa pobre estava imersa na Política dos Governadores sendo dominada pelos chamados "coronéis" que utilizavam do voto de cabresto para manterem seu poder. Desorganizados e fortemente controlados, era também impossível sair desses setores algum tipo de oposição. Enquanto que os industriais, em crescente desenvolvimento no país, até mesmo por suas origens se encontravam dependentes ideologicamente das oligarquias dominantes e também não representavam um projeto de país diverso do que estava em voga. Sobrou as classes médias urbanas, múltiplas em sua estrutura e ocupando várias posições na produção desde a intelectualidade, profissões liberais até cargos públicos da burocracia estatal. Apesar de dependentes ideologicamente das elites, foram os setores que conseguiram demonstrar grande revolta frente à crise. Desejam participar da vida política do país, mas se viam limitados pela estrutura oligárquica. Com isso, estavam propensos a apoiarem revoltas e ações radicais contra a República Velha. 

O que faltavam a essas classes médias? Para a autora, faltavam uma independência ideológica maior das elites e maior capacidade de organização pois sequer tinham um partido político que os representassem. E em meio a esse vago política, surgem os militares. Daí "os "tenentes" substituíram inexistentes partidos políticos de oposição aos governos oligárquicos de Epitácio Pessoa e Artur Bernardes" (PRESTES, Anita Leocádia. São Paulo, Expressão Popular, 2009, p. 32). Esses tenentes, "pela sua origem social quanto pelas suas condições de vida, estava estreitamente ligados às camadas médias urbanas, sofrendo sua influência e participando do processo geral da radicalização de tais setores" (PRESTES, Anita Leocádia. São Paulo, Expressão Popular, 2009, p. 32). E por que esses tenentes? Os motivos são variados para a autora. Entre eles: 

  • Fator armas a disposição, tendo a possibilidade de derrubar a oligarquia por meio da força, se assim fosse necessário;
  • Organização numa instituição de âmbito nacional como as Forças Armadas, otimizando o poder de articulação; 
  • Nível cultural acima da grande maioria da população civil.    
Apesar disso, o tenentismo seria mais um espírito rebelde que propriamente um movimento político coordenado e organizado. Sua ideologia, porém, se baseava no Liberalismo. Essa ideologia, modelada pela elite a realidade nacional com o intuito da manutenção de seus interesses, era a representante das oligarquias hegemônicas. As classes médias, origem social da maioria desses tenentes, não poderiam fazer outra coisa a não ser reproduzir a ideologia da classe dominante. Logo, "rebelaram-se contra os seus opressores fazendo uso da ideologia desses mesmos opressores. E nisso consistia um dos principais motivos de sua ambiguidade e inconsequência" (PRESTES, Anita Leocádia. São Paulo, Expressão Popular, 2009, p. 35). A falta de uma teoria social independente dos interesses das elites, foi um ponto de fragilidade do movimento tenentista apontado pela autora. Diferente da geração anterior de militares que influenciados pelo Positivismo proclamaram a República em 1889, a geração dos anos 20 era mecanizada e enquadradas em teorias envolvendo as Ciências da Natureza e Exatas. Sem teoria social, acabaram agindo de forma espontânea. 

Em suas ideias, a moralização da política e das instituições era o caminho para o bom funcionamento dos princípios liberais. Elitistas, enxergavam neles as figuras capazes de liderar esse processo de higienização política. Logo, a revolução seria feita pelos militares, através das armas (se fosse preciso) com base no lema "representação e justiça". Não havia neles nenhuma preocupação com teoria social, com o problema agrário brasileiro, com a dominação imperialista que sofria o país etc. O "seu pretenso nacionalismo era vago, impreciso e, provavelmente, refletia as ideias de Alberto Torres" (PRESTES, Anita Leocádia. São Paulo, Expressão Popular, 2009, p. 37). Alberto Torres era um crítico das instituições republicanas e propunha um Estado autoritário como único capaz de organizar a nação. Ademais, Anita afirma que o movimento tenentista buscava reafirmar os princípios ideológicos liberais defendidos pelas oligarquias dissidentes, mas com um importante adendo: estavam dispostos a pôr em prática seu programa nem que fosse necessário recorrer as armas. 

Capítulo 03 -  A rebelião de 1924 em São Paulo

Em 05 de julho de 1924 estourou mais um levante tenentista, desta vez na cidade de São Paulo. Liderados pelo general Isidoro Dias Lopes e o major Miguel Costa, os "tenentes" almejavam depor Artur Bernardes e colocar no lugar um presidente que iria moralizar as instituições. O voto secreto era, mais uma vez, uma das principais bandeiras do movimento. A arquitetura da rebelião ficou por conta dos irmãos Joaquim e Juarez Távora, buscando apoio não só nos meios militares como também nos meios civis. Nesse último, angariou o apoio de dois civis: o deputado oposicionista Maurício de Lacerda (pai do jornalista Carlos Lacerda) e do líder político gaúcho Assis Brasil. Assim como ocorreu em 1922 no Rio de Janeiro, várias unidades militares desistiram de se levantar na última hora, mostrando mais uma vez a desorganização do movimento. Os rebeldes paulistas tomaram o poder em São Paulo, pois o governador paulista em exercício Carlos de Campos, fugiu. Em resistência durante 03 semanas, os rebeldes se viram cercados pelas tropas governistas de Artur Bernardes e tiveram que fugir de São Paulo para sobreviverem. Rumaram para o Paraná onde, por mais de 06 meses, combateram as tropas governistas comandadas por Marechal Rondon numa guerra de posição.

Capítulo 04 - O levante no Rio Grande do Sul 

A rebelião em São Paulo influenciou outros movimentos e entre os dias 28 e 29 de outubro de 1924 se rebelaram várias unidades militares no interior do Rio Grande do Sul. Os líderes desses levantes foram Aníbal Benévolo, Mário Portela e Luís Carlos Prestes. Por falta de organização, a maioria dos levantes foram esmagados pelas tropas do governador Borges de Medeiros. A única que permaneceu de pé foi a de São Luís Gonzaga, para onde as tropas de Prestes e Portela partiram após o avanço das tropas governistas em Santo Ângelo. A cidade de São Luís Gonzaga era de difícil acesso, pois não tinha ferrovias próximas ao local. Esse foi o principal motivo para o não alcance das tropas governistas na cidade. Organizados em São Luís Gonzaga, Prestes começava a despontar como liderança. Organizou a inserção de padeiro e cozinheiro, se preocupando com a alimentação dos seus comandados. Além disso, organizou o tempo dos comandados para que desse tempo estudar, fazer atividades físicas e receber instrução militar. Era iniciada uma nova forma de relacionamento entre comandantes e comandados, jamais vista nas fileiras das Forças Armadas. Prestes virou comandante e professor, zerando o analfabetismo na tropa em 03 meses de resistência. Mantendo a mesma vida que os subordinados, "Prestes conseguia estimular a iniciativa dos soldados, sem desprezar a disciplina, que era obtida com o exemplo do próprio comportamento e excluía a prática de qualquer tipo de violência" (PRESTES, Anita Leocádia. São Paulo, Expressão Popular, 2009, p. 53). O apoio dos civis em Santo Ângelo e São Luís Gonzaga era respaldado pela atitude de não agressão a população civil. Em pouco tempo as forças das tropas governistas se voltavam para a única cidade que ainda resistia: São Luís Gonzaga.

Capítulo 05 - A organização inicial da Coluna

Com os homens presentes em São Luís Gonzaga, tem-se o grupo inicial do que viria a ser a Coluna Prestes. Eram cerca de 1.500 homens, com pouca munição, sem arma de longo alcance, mas com muitos cavalos e determinação em mudar os rumos do país. Prestes logo buscou transformar esse grupo num exército disciplinado, porém, sem retirar a autonomia dos subordinados. A introdução de uma disciplina militar, centralizada em lideranças, foi o fator primordial para o sucesso dos rebeldes. Foi essa nova moral, nunca vista nas Forças Armadas, que Prestes conseguiu aglutinar tantos homens em torno de um ideal que se materializava na tentativa de depor Artur Bernardes e na moralização das instituições. Tudo isso sem qualquer tipo de pagamento.

Foi logo adotada uma importante tática gaúcha, as chamadas potreadas. As potreadas eram homens, selecionadas na tropa, que tinha como objetivo buscar cavalos, gado para alimentação e mais ainda: colher informações sobre as tropas inimigas. Foi usando essa forte rede de informações que a Coluna Prestes conseguia se adiantar aos inimigos, surpreendo-os. Outro adoção foi a do respeito total a população civil, sendo duramente reprimido qualquer ato criminoso contra os civis, chegando até casos de fuzilamento. Também estava proibida a violação da propriedade privada, sendo prática da Coluna enviar um recibo (assinado por Prestes ou por outro comandante) em que solicitava ao proprietário víveres que seriam pagos após o sucesso da revolução. O grupo inicial da Coluna era formado por dois grupos, "os soldados, que haviam se levantado nas unidades militares rebeladas, e os civis, chefiados pelos caudilhos maragatos, acostumados à indisciplinada luta guerrilheira, que deixara raízes no Rio Grande do Sul"  (PRESTES, Anita Leocádia. São Paulo, Expressão Popular, 2009, p. 63). Em sua maioria eram homens pobres, sem ou com pouca propriedade e que trabalhavam como peões para os caudilhos locais. Um total de 20 mulheres foram incorporadas a Coluna, revelando grande dedicação.

Os líderes desse grupo inicial, foram: a) Luís Carlos Prestes; b) Mário Portela; c) Siqueira Campos; d) João Alberto e e) Cordeiro Farias. Todos viviam como os subordinados, criando o novo moral já citado em que a disciplina era acompanhada de um diálogo entre comandantes e comandados. Na cidade era criado o jornal "O Libertador", o órgão de imprensa do movimento e que tinha como lema "Liberdade ou Morte". José Pinheiro Machado foi o editor chefe desse jornal, sendo figura carimbada em toda a trajetória da Coluna.

Capítulo 06 - O rompimento do cerco de São Luís e a marcha para o Norte

Através da introdução da guerra de movimento, característica dos conflitos no Rio Grande do Sul, Prestes consegue furar o cerco montado pelas forças governistas em torno da cidade de São Luís Gonzaga. Quando as tropas governistas chegaram na cidade, os rebeldes já tinha saído do local. Marchando para o norte, as tropas tiveram que enfrentar as tropas governistas num conflito chamado de Combate da Ramada. Nessa retirada do Rio Grande do Sul, ocorreram algumas baixas. O comandante Mário Portela foi morto e vários soldados abandonaram a tropa por não aceitarem sair do seu estado natal. Já estamos em janeiro de 1925.

Capítulo 07 - A travessia de Santa Catarina e Paraná e a incorporação dos rebeldes paulistas à Coluna

Atravessando Santa Catarina e chegando no Paraná em fevereiro de 1925, a intenção era se juntar as tropas paulistas que resistiam no estado e estavam sendo cercadas pelas tropas de Rondon. O período no Paraná foi muito importante para o transcorrer da Coluna, pois foi o momento em que os maragatos (civis ligados aos caudilhos gaúchos) desistiram de seguir à tropa dando o total controle dos soldados a Prestes e seus companheiros próximos. Após muitas dificuldades, as tropas gaúchas se unem as tropas paulistas em abril de 1925. Enfrentando fortes dificuldades com as tropas inimigas lideradas por Rondon, os rebeldes chegam ao Mato Grosso contornando pelo Paraguai. Consumada a junção Rio Grande do Sul/São Paulo, as lideranças ficaram com Luís Carlos Prestes, Miguel Costa e Juarez Távora. Isidoro Dias Lopes, juntos com outros oficiais paulistas, decidem desistir da Coluna por cansaço e no caso do Isidoro pela idade avançada que se encontrava. A Coluna ficaria com cerca de 1.500 combatentes, sendo cerca de 800 paulistas e 50 mulheres (entre gaúchas e paulistas). Estava revigorada à Coluna que rodaria o país.

Capítulo 07 - A passagem por Mato Grosso, Minas e Goiás e a reorganização da Coluna

Em maio, de 1925, já no Mato Grosso, ocorreu um conflito aos redores do Rio Apa em que Miguel Costa levou à Coluna a perigo após optar pelo ataque as tropas governistas mesmo tendo menos homens e munição. Essa ocasião serviu para tornar visível a divergência entre o paulista Miguel Costa e o gaúcho Luís Carlos Prestes, pois "enquanto o primeiro era partidário do combate decisivo, que levasse o inimigo à derrota, Prestes considerava necessário saber recuar no momento certo, evitando maiores perdas para os rebeldes, que se encontravam em situação de grande inferioridade militar" (PRESTES, Anita Leocádia. São Paulo, Expressão Popular, 2009, p. 89). Chamado de Combate de Zeca Lopes, o conflito no rio Apa foi impulsionado após a proposta do major Klinger (comandante das tropas governistas) propor a rendição dos rebeldes. Insultados, acabaram agindo por impulso ao atacar as tropas governistas e obtiveram com isso várias perdas. A partir daí, as ações ficariam mais centralizadas a Prestes, mais escutado que Miguel Costa. E a visão de Prestes era tocar uma guerra de movimento, uma guerra de guerrilhas onde se recua na hora certa e se busca atacar os inimigos com base em emboscadas. Major Klinger foi o único comandante governista a criticar a forma como essas forças agiam referente à Coluna, autocrítica que lhe custou prisão e condenação.

Capítulo 08 -A Coluna no Norte e Nordeste

Após passar pelo Centro-Oeste, os rebeldes chegam no Nordeste. No Maranhão, são bem recepcionados com direito a discurso em público de Juarez Távora. A simpatia dos mais humildes era visível, principalmente, quando esses queimavam documentos de cobrança de impostos e libertavam presos mantidos sob estado de tortura. Mas faltava uma consciência de classe mais desenvolvida, alguma teoria social independente como norte. Não compreenderam, por exemplo, o problema agrário do país e tratavam camponeses e latifundiários da mesma forma como se esses tivessem interesses homogêneos. Para esses rebeldes, "a reforma agrária era um assunto desconhecido, aí residindo, provavelmente, a causa principal da passividade revelada pelo sertanejo diante da marcha dos rebeldes"  (PRESTES, Anita Leocádia. São Paulo, Expressão Popular, 2009, p. 108). A passagem pelo Nordeste não foi tranquila, tendo as tropas governistas forte ajuda dos coronéis e seus cangaceiros.

Capítulo 09 - A travessia da Bahia, a marcha para o exílio e o fracasso do combate governista à Coluna

Perseguidos constantemente pelas tropas governistas, os rebeldes conseguem se safar a cada investida por conta da tática das potreadas que conseguiam captar informações valiosas sobre os inimigos. Em outubro de 1926, já com Washington Luís eleito, Prestes decide pôr fim à marcha invencível. Se deparando com o povo miserável no interior do país, Prestes ficou chocado e entende que a simples substituição presidencial não resolveria um problema tão grave como aquele. Segundo depoimento do próprio a autora, "eu estava convencido de que a substituição pura do Bernardes não ia resolver nenhum problema. Nós estávamos diante de um problema social profundo, mas não conhecíamos as causas dessa miséria"  (PRESTES, Anita Leocádia. São Paulo, Expressão Popular, 2009, p. 127). Com a posse de Washington Luís, em novembro de 1926, ficava evidente entre os rebeldes que era preciso mudar de tática. Fazendo um longo caminho de ida, enfrentando mais dificuldades e combates, os rebeldes saem do país em fevereiro de 1927. Rumam para a Bolívia sem serem derrotados. Foram 2 anos e 3 meses de combate, vencendo um total de 18 generais de Artur Bernardes que tinham o auxílio das policiais estaduais, coronéis e seus cangaceiros. A Coluna que chegou a Bolívia, depondo armas, tinha um total de 620 homens. Entrava para a história à Coluna Prestes, invencível revolta popular.

Conclusão - Dentre algumas conclusões sobre à Coluna Prestes, podemos destacar:
  • A Coluna Prestes durou 2 anos e 3 meses, percorrendo 13 estados da federação e derrotando um total de 18 generais ligados ao Governo Artur Bernardes; 
  • A Coluna Prestes pôs em prática um estilo de guerra então desconhecido na América Latina, a guerra de movimento ou guerra de guerrilhas; 
  • A Coluna Prestes adquiriu características populares, sendo a esmagadora maioria dos seus soldados homens simples, pobres, analfabetos ou semianalfabetos e que combatiam com estimável heroísmo; 
  • Com o Governo Washington Luís decretando o fim da censura à imprensa, vários relatos jornalísticos sobre à Coluna Prestes rodaram os principais centros urbanos do país dando a Luís Carlos Prestes uma enorme projeção nacional sendo uma espécie de referência das classes médias urbanas; 
  • O contato com a miséria do povo brasileiro fez Luís Carlos Prestes enxergar que uma simples sucessão presidencial não resolveria os problemas do país, com isso ele logo aderiria ao Marxismo objetivando a revolução socialista como a solução para os problemas nacionais;
  • Luís Carlos Prestes nunca ofereceu apoio a Aliança Liberal, plataforma liberal representada por Getúlio Vargas nas eleições presidenciais de 1930;
  • O movimento tenentista foi incapaz de ser independente da ideologia das classes dominantes, sendo a maioria dos "tenentes" absolvidos pelas oligarquias dissidentes que dariam curso a "Revolução de 30" (as aspas são usadas pela autora); 
  • A Coluna Prestes foi facilmente utilizada pelas oligarquias dissidentes na busca de seus interesses;
  • A Coluna Prestes, ponto alto das chamadas revoltas tenentistas, e em seguida a "Revolução de 30" foram dois episódios de grande importância nos anos 20 que fundaram uma nova forma de desenvolvimento capitalista no Brasil. 

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