sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Getúlio Vargas e o Triunfo do Nacionalismo Brasileiro



  • Sobre o autor: Ludwig Lauerhass nasceu em Los Angeles (EUA) em 1935. Foi um teórico brasilianista, ou seja, estrangeiro que procurou estudar e se aprofundar sobre a História do Brasil. A presente obra foi resultado de sua tese de doutorado em História pela Universidade da Califórnia em 1972. Ele está ao lado de Thomas Skidmore e Joseph Love como autores brasilianistas. 


Getúlio Vargas e o Triunfo do Nacionalismo Brasileiro: estudo do advento da geração nacionalista de 1930 - Ludwig Lauerhass, Jr. - Editora Itatiaia



Introdução - A introdução feita pela historiadora Celina Moreira Franco que vem destacar a essência da obra. Segundo ela, Lauerhass analisa o Brasil com o recorte no nacionalismo que para ele ganha destaque a partir da Proclamação da República em 1889. A partir de 1930, a preocupação em volta do nacionalismo deixa de ser exclusiva da intelectualidade para ser uma questão de Estado. Nesse livro o autor traça a gênese das ideias nacionalistas no Brasil, seu desenvolvimento durante a Primeira República (1889-1930), sua nova forma entre 1930-1937 e seu auge a partir da instauração do Estado Novo em 1937. Essa breve introdução remonta de janeiro de 1985. 

Capítulo 01 - O Problema do Nacionalismo Brasileiro

Esse primeiro capítulo é subdivido em 06 partes que serão brevemente resumidas abaixo. Seguem as partes: A) O Problema Delimitado - Vargas, Nacionalismo e o Surgimento da Geração de 1930; B) Definições - Revolução e Nacionalismo; C) Natureza e Características do Nacionalismo Brasileiro; D) Qualidades e Características da Revolução no Brasil; E) Principais Componentes do Nacionalismo Brasileiro - A busca da identidade nacional, o ardor patriótico, o combate ao regionalismo, a exigência de legitimidade e moralidade políticas e luta em prol do desenvolvimento econômico; F) Grande Variedade do Nacionalismo Brasileiro - Liberal-democrático, autoritário-do-centro, progressista-conservador e pragmático. 

Lauerhass inicia sua obra se questionando o porquê Getúlio Vargas, político gaúcho que chegou ao poder após a Revolução de 30, conseguiu estabilizar o país tornando-se árbitro de tendências políticas antagônicas. Para ele, a resposta de que isso foi resultado de sua habilidade política (existente para o autor) é simplista e desconsidera aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais que tem no fenômeno do nacionalismo sua causa principal. Em suma, a força do nacionalismo desenvolvida por Vargas contribuiu para a manutenção do seu poder. O objetivo da obra seria traçar um desenvolvimento do nacionalismo brasileiro, tanto antes de Vargas quanto durante seu governo. A análise histórica do fenômeno se encerra em 1945, após a queda do Estado Novo que foi o período onde o nacionalismo brasileiro encontrou seu auge. A obra busca trazer as implicações que o nacionalismo trouxe na política brasileira, após a Proclamação da República em 1889, em meio a uma sociedade que estava em constante processo de transição de uma sócio-economia tradicional para uma moderna. 

Antes de entrar nas nuances do desenvolvimento nacionalista brasileiro, o autor conceitua "revolução" e "nacionalismo". Revolução seria um processo político abrupto e violento onde um grupo dominante é retirado do poder sendo instalado um novo grupo que contém forte apoio popular. As principais ações dos revolucionários é revitalizar o Estado, fortalecendo-o. Isso tudo no plano político. No plano econômico, a sociedade passa a ser palco de uma redistribuição da propriedade tornando-a mais equitativa. Já o nacionalismo, consiste tornar o Estado-nação o elemento central da ordem social devendo ser o foco da lealdade dos cidadãos. Nesse ponto de vista, o Estado-nação é responsável pelas principais decisões que rodeiam os negócios humanos. No plano externo, busca sua independência política de forças externas e no plano interno se esforça para desenvolver e integrar o país. O nacionalismo se mostra em três aspectos, são eles: 
  • Ideológico - a nível ideológico o nacionalismo se mostra através de escritos que buscam criticar a sociedade existente, apontando para a necessidade da construção de uma nova; 
  • Institucional - a nível institucional o nacionalismo se mostra não através de uma instituição em si, mas de uma gama de instituições que estão à seu serviço como partidos políticos, constituições, escolas, esportes e que podem ser personificadas nessas instituições através de instrumentos simbólicos como bandeiras, monumentos, festividades, canções e heróis nacionais; 
  • Popular - a nível popular o nacionalismo se manifesta através de um sentimento supremacista da nação que em tempos de crise são ovacionados por diferentes atores políticos. 
Para além desses aspectos, o nacionalismo é encontrado em diferentes espectros políticos. Conservadores, liberais e socialistas utilizam aspectos nacionalistas citados acima em suas atividades políticas. Logo, o nacionalismo não é fruto de um único espectro político. Ele surge no Século XVIII, combinando patriotismo (a ideia de defender sua terra natal) e as ideias de nacionalidade (a ideia de fazer parte de um grupo social culturalmente distinto a todos os outros). Seu objetivo é a independência e a igualdade, combatendo o cosmopolitismo e o universalismo. O único valor considerado é o Estado-nação. Não sendo patrimônio de nenhum espectro político, o nacionalismo navega tanto pela reação quanto pela revolução a depender do contexto histórico. 

Após esse aparato mais geral, o autor entra na caracterização do nacionalismo brasileiro. É feita uma breve síntese da História do Brasil. Diferente dos demais países da América Latina, a independência política do Brasil não foi resultado de uma revolta armada mais de um jogo de negociações que deu ao nacionalismo brasileiro um papel secundário ou quase inexistente. Durante o período regencial, os que comandaram o país não utilizaram símbolos pátrios próprios. Já no Brasil Império, os interesses nacionais foram substituídos por interesses pessoais e regionais fazendo o nacionalismo não ter espaço para seu desenvolvimento. Só a partir da Proclamação da República é que aspectos do nacionalismo começam a aparecer, principalmente, no plano ideológico. O resultado de tudo isso foi um nacionalismo retardatário, destacado pelo autor da seguinte forma: 
"A natureza característica do nacionalismo brasileiro deriva, em parte, de seu aparecimento retardatário. Não se associou, primordialmente, à conquista da independência e à hostilidade aos portugueses. Não reviveu como reação direta ao domínio político estrangeiro ou outras ameaças vindas do exterior, mas antes como reação a crises internas. Tal fato, combinado com a prolongada ausência de séria ameaça política externa durante o Século XX, contribuiu para reduzir a um mínimo seu conteúdo de hostilidade ao estrangeiro politicamente inspirada" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 21)
É só a partir de 1930 que o nacionalismo ganha um vulto maior, ganhando expressão todos os seus aspectos vistos acima. A busca a partir de 1930 foi de um desenvolvimento interno que buscasse fortalecer um Estado-nação moderno, junto com uma cultura nacional. Como podemos observar, não se trata de um nacionalismo xenófobo, bélico e expansionista como observamos na Europa.

Passada a análise das suas características o autor trás os objetivos que se encontram no nacionalismo brasileiro. Destacaremos abaixo cada um desses objetivos:
  • A busca da identidade nacional - Afinal, o que é o Brasil? O que é ser brasileiro? Essas respostas só foram esboçadas a partir da Proclamação da República. No Brasil Colônia, durante o domínio português, o foco na família era mais presente que a ideia de nação. No Império, já pode-se observar a ideia de um desenvolvimento nacionalista, mas ainda restrito a um grupo seleto de intelectuais e políticos. É apenas na República que essa busca pelo conceito de Brasil ganha desenvoltura, sendo o processo acelerado após 1930 onde "observou-se uma identificação mais ampla e mais geral com o Brasil, a nação, como entidade sócio-psicológica e cultural, relacionada com o mundo lusitano, mas dotada de personalidade própria, desenvolvida através de uma experiência histórica sui generis" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 24);
  • Impulso patriótico - Esse aspecto teve no Brasil menos desenvolvimento em comparação com outros países latino-americanos. A falta de intervenção externa e a conquista da independência política por meio de negociatas, tornou o amor ao país passivo e o resultado disso é a carência de heróis nacionais como San Martin, Simón Bolívar etc. A figura vista historicamente como "patriarca da independência" é José Bonifácio, político que mais representa o racionalismo político das negociatas que propriamente um patriota ardoroso e revolucionário. Esse impulso patriótico só veio ser estimulado a partir de 1930, seja contra o estrangeiro (o japonês, o italiano e principalmente o alemão) antes da Segunda Guerra Mundial seja o entreguista a favor do capital estrangeiro e o comunista após a Segunda Guerra Mundial;
  • Ataque ao regionalismo - O combate ao regionalismo foi peça-chave no desenvolvimento do nacionalismo brasileiro, tendo em vista a "extrema fragmentação social do Brasil, resultante do próprio tamanho do país, dos padrões históricos de sua colonização, de sua pronunciada diversidade geográfica, da predominância da sociedade rural e da falta de um único foco centralizador" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 25). Entre as propostas dos nacionalistas para combater o regionalismo, estavam a melhoria do sistema de transportes e comunicação do país e uma consequente promoção do desenvolvimento econômico de regiões atrasadas como o Nordeste e a Amazônia. O combate as oligarquias políticas de estados dominantes, como as paulistas e mineiras, também foi pauta presente; 
  • Legitimidade política, moral e eficiência política - Entre as ideias contidas nesse aspecto, temos a busca em retirar o poder das mãos de uma minoria oligárquica se apoiando em bases sociais mais amplas e populares. Para que tivesse legitimidade era preciso servir a todos os grupos presentes no país. Inclusive, grupos historicamente negligenciados. O âmbito moral ficava por conta da transparência e honestidade. Tudo isso dentro de uma constituição que não fosse uma mera cópia de países estrangeiros, mas que trouxesse mecanismos compatíveis com as especificidades do país. Como fazer tudo isso? Chamando o povo, fazendo campanhas civilistas que desenvolvessem nas massas o dever cívico;
  • Justiça Social - Por fim, a ideia de justiça social está presente em todas as vertentes do nacionalismo brasileiro. Deve-se desenvolver a nação para que todos possam dela desfrutar condições de vida satisfatórias. A partir de 1930, a preocupação com os mais pobres vira caso de preocupação do Estado-nação que garante uma série de direitos políticos, sociais e econômicos para grupos sociais historicamente esquecidos. Porém, limitações são vistas como a completa ausência de políticas para o trabalhador rural que permaneceu ignorante e a mercê do poder dos grandes proprietários de terra. Além disso, antigos valores sociais encontrados no campo foram transferidos para os centros urbanos, retardando seu completo desenvolvimento. 
Por fim, Lauerhass mostra a variedade de vertentes do nacionalismo brasileiro que se expressaram durante o Brasil República. São elas: 
  • Liberal-democrático - civis, anti-militaristas, legalistas, parlamentaristas e porta-voz das classes médias; 
  • Autoritário do centro - militarista, golpista, positivista, bonapartista, defensora das classes médias; 
  • Progressista-conservador - civis, católicos, tradicionalistas, pró-portugueses, defensores das classes altas e médias; 
  • Pragmático - civis, personalistas e defensores das classes médias. 
De forma bem resumida seriam essas as 04 principais vertentes encontradas no nacionalismo brasileiro entre 1889 e 1937. As diferenças entre essas vertentes são "vinculada ao grau de mudanças desejáveis da estrutura social, e a outra relacionada com a amplitude da centralização do poder necessária para a consecução de tal objetivo" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 30). Porém, se juntam quando nenhuma de suas vertentes alcançou um estágio extremista, sendo todas caracterizadas por sua moderação política. Adiantando o que vai ser visto durante toda a obra, Lauerhass mostra que analisará o desenvolvimento do nacionalismo brasileiro dentro de uma ordem cronológica que foi assim pensada: 
  1. Primeira geração de nacionalistas (1880-1914)
  2. Nova geração de nacionalistas (1915-1929);
  3. Predomínio nacionalista (1930-1937);
  4. Nacionalistas intrusos (fascistas e comunistas)
  5. Triunfo do nacionalismo (1937-1945)
Capítulo 02 - O despertar do nacionalismo - A primeira geração nacionalista (1880-1914)

Esse segundo capítulo é subdivido em 03 partes: A) Tendências gerais; B) Intelectuais nacionalistas inovadores - Sílvio Romero, Euclides da Cunha e Alberto Torres; C) Surgimento dos principais tipos de nacionalismo - Liberal-democrático (Rui Barbosa), Autoritário-do-centro (Florianismo e Hermismo), Progressista-conservador (Eduardo Prado e Dom Luís) e Pragmático (Pinheiro Machado). 

A primeira geração nacionalista surge em fins do século XIX em consequência de uma variedade de mudanças sociais que vinham ocorrendo no país. O desprestígio do Império era só a ponta do iceberg. O progresso na integração do país, a abolição da escravatura, o urbanismo, o incipiente processo de industrialização, a imigração europeia e entre outros fatores ajudaram a formar uma nova mentalidade nacional que se questionaria em entender o Brasil. Uma nova classe de intelectuais surgia buscando criticar os problemas nacionais existentes e ao mesmo tempo formular uma ideologia para o florescimento do nacionalismo brasileiro. Para esses intelectuais era preciso entender o país para alterar os padrões culturais existentes com o intuito de torná-los nacionais e de alcance popular. Desses intelectuais pioneiros, três se destacaram: A) Sílvio Romero; B) Euclides da Cunha; C) Alberto Torres. 

Sílvio Romero - influenciado fortemente pelo Darwinismo Social - buscou compreender os princípios da nacionalidade brasileira para assim enxergar com mais clareza os problemas enfrentados pelo país. Sua influência evolucionista levou a crer que o Brasil era um país ainda atrasado e em processo para tornar-se uma nação. A integridade nacional seria alcançada após uma completa integração entre as diversas etnias existentes no país. Por isso era de extrema importância espalhar o branco europeu para todas as regiões, pois sua concentração no Sul criava uma divisão nacional. Outras propostas de cunho social e econômico eram propostas por Sílvio como reforma agrária, reforma educacional e maior inserção do proletariado na sociedade. Era um crítico tanto dos conservadores centralizadores que advogavam o Império, quanto dos republicanos federalistas que queriam transferir a constituição norte-americana para a realidade brasileira. 

Euclides da Cunha foi outro grande intelectual pioneiro. Com sua célebre obra "Os Sertões", ele adverte para a falta de unidade nacional e aponta a necessidade de sua integração. Os dois Brasis existentes, travam o embate entre o sertanejo bárbaro e o litorâneo civilizado que é representada pela Guerra de Canudos que ele dar cobertura jornalística. Sua crítica vai ao litoral civilizado que, tomando uma cultura emprestada, exclui da sua missão civilizadora o sertanejo. Apesar de tudo, Euclides era otimista e acreditava na construção de uma civilização futura onde "o sertão seria civilizado e o litoral nacionalizado, eliminando-se, destarte, os "dois Brasis" e tornando realidade uma cultura nacional mais vigorosa" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 42). A ciência e a Sociologia em específico teriam um papel primordial no processo de entendimento do país e também de sua transformação. Para isso, era necessário investimento governamental que patrocinasse cientistas preocupados com o entendimento do país. 

Alberto Torres foi outro intelectual preocupado na construção de uma nacionalidade. Diferente dos outros dois, ele sai da pura acusação para a formação de uma ideologia nacionalista bem estruturada. Em suas ideias afirmava ser necessário construir um caminho que não fosse a pura repetição de receitas externas. O Brasil era preciso ser palco de um governo forte que protegesse o país das ameaças imperialistas. Esse governo forte passaria pela construção de um Poder Coordenador, responsável pela integração entre os vários órgãos governamentais. Então, 
"O projeto constitucional de Torres incluía, portanto, inúmeros dispositivos específicos, destinados a integrar os indivíduos em uma nova sociedade nacional e combater as forças dispersivas do regionalismo, de grupos econômicos e do imperialismo estrangeiro" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 44)
Em suas soluções políticas, Torres apontava para um Senado corporativista com cada candidato tendo que apresentar um programa de âmbito nacional a fim de se tornar elegível. No plano econômico, as restrições ao imperialismo deveria ser expressa pela nacionalização de setores estratégicos. No plano intelectual, propunha a formação de um instituto para estudar os problemas nacionais. Como podemos observar, as ideias de Torres se mostraram mais organizadas e estruturadas que a dos anteriores. Mesmo assim, a ação política de todos era restrita ou quase nula. Suas ideias sobre o Brasil ficavam então presas ao campo puramente intelectual e abstrato.

Debatido o pioneirismo da obra desses três autores, Lauerhass passa para a formação das principais vertentes políticas do nacionalismo brasileiro. Começando pela vertente liberal-democrática, o autor trás a importância de Rui Barbosa. Sua figura foi representante dessa vertente na primeira geração de nacionalistas. Rui foi figura ativa no processo que resultou na Proclamação da República, sendo peça-chave no governo provisório que sucedeu a queda de D. Pedro II. Diferente de Sílvio, Euclides e Torres ele teve uma participação política mais ativa sendo de fato mais um político que um intelectual. Diferente dos intelectuais, que buscavam encontrar a natureza da brasilidade em suas abstrações, Rui tinha outras preocupações como "problemas mais concretos de legitimidade, eficiência e moralidade políticas; desenvolvimento econômico; justiça social, e preservação da unidade e do prestígio da Nação" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 46). Sua ação no governo provisório, logo o diferenciou das outras vertentes do nacionalismo como os autoritários-do-centro e também dos conservadores. Sua preocupação era eliminar os resquícios da monarquia que privilegiava castas, mas combatendo o autoritarismo militar para que esse não instalasse uma nova casta no poder. Em combate a essas vertentes, Rui defendeu medidas como separação da Igreja do Estado, sufrágio mais amplo, expansão do ensino público, garantia das liberdades civis, igualdade perante a lei, controle civil dos militares etc. Essa sua fase anti-militarista se intensifica após o rompimento que teve com Deodoro da Fonseca, seguido pela oposição ferrenha realizada a Floriano Peixoto. Em 1910, lidera a chamada Campanha Civilista em que disputa e perde as eleições presidenciais do mesmo ano para Hermes da Fonseca.

Após sua segunda derrota presidencial, em 1919, Rui passa a defender com clareza a inserção do proletariado urbano e rural aos benefícios concedidos pela modernidade. Porém, "não pela adoção de uma forma doutrinária de socialismo, mas pelo esforço conjunto de todos os elementos produtivos da sociedade, de maneira a estabelecer uma democracia social cristã de verdade" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 48). Além dessa percepção, Rui passa a defender alianças com setores militares à semelhança da ocorrida em 1889, tendo em vista sua completa desilusão com a democracia oligárquica dominante. O objetivo dessa aliança era "republicanizar a República", se afastando com isso de sua antiga posição anti-militarista.

A vertente liberal-democrática é o lado civil do processo de 1889. O lado militar é quem vai dar origem, segundo o autor, da vertente autoritário-do-centro. Ao contrário dos liberais-democráticos, os autoritários-do-centro minguavam de lideranças. As que surgiam estavam a mercê dos interesses de civis, nacionalistas ou não-nacionalistas. Se configura, inicialmente, como uma vertente inexperiente politicamente e sem um norte ideológico bem definido. Um fator para essa falta de lideranças é "a tradicional concepção dos militares de que a sua missão institucional era protetora e essencialmente apolítica" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 48). Apesar de tudo isso, o nacionalismo de vertente autoritário-do-centro foi uma expressão política presente nos primeiros anos da República tendo em vista dois fenômenos pontuados pelo autor: o Florianismo e o Hermismo.

O Florianismo é visto como o período que corresponde ao Governo de Floriano Peixoto (1891-1894). Suas ações centralizadoras e autoritárias foram de extrema relevância para a consolidação da República, reprimindo grupos separatistas regionais e monarquistas restauradores. Basicamente conseguiu controlar a instabilidade que tentava se estabelecer sob intervenções militares e federais nos estados. Em suma, "o florianismo ficou como um vago sentimento, ardentemente patriótico, antilusitano e, de um modo geral, contrário dos estrangeiros, defendendo a nacionalização da política e do comércio, assim como a proteção da unidade cultural e maior integração da sociedade" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 50). Além do florianismo, o Hermismo foi outro fenômeno político dessa primeira geração de nacionalistas autoritário-do-centro. Atacando o poder das oligarquias regionais ao nomear governadores, Hermes mexeu com os interesses das oligarquias regionais e acabou saindo do poder.

Tanto a vertente liberal-democrática, quanto a autoritário-do-centro têm-se semelhanças e por isso alianças entre esses setores foram possíveis. Ambos estavam preocupados com a unidade nacional, a estabilização da República e o combate as forças monarquistas que tentavam restaurar a antiga ordem. Porém, suas diferenças se encontravam nos meios para realizar tais tarefas. Enquanto os liberais só aceitavam um governo autoritário em situações emergenciais, os autoritários-do-centro enxergavam na ditadura a maneira viável de alcançar os objetivos. Esse pensamento segue uma forte influência positivista que essa última vertente teve, principalmente de figuras como Benjamin Constant e Júlio de Castilhos que no Rio Grande do Sul chegou a institucionalizar uma constituição estadual com forte influência positivista.

Essas duas vertentes, porém, estavam em completa oposição ao nacionalismo conservador que tinham nos monarquistas restauradores suas principais figuras. O objetivo dessa vertente era desenvolver o país, mantendo a ordem social que foi derrubada em 1889. Em suas concepções, acreditavam que a monarquia estava nas raízes identitárias do Brasil e a República não poderia superar os problemas nacionais. A principal liderança monarquista dessa primeira geração de nacionalistas conservadores é Eduardo Prado. No âmbito internacional, Prado criticava duramente a influência norte-americana que começava a crescer no país, sendo a Constituição de 1889 uma prova real e concreta disso. Essa aproximação, afastava o Brasil de suas origens lusitanas e católicas. Outra figura desse tipo de nacionalismo foi o Príncipe Dom Luís de Orleans e Bragança. Os nacionalistas conservadores não conseguiram superar os seus rivais liberais, autoritários e muito menos as oligarquias regionais que tomaram o poder executivo após a vitória eleitoral de Prudente de Moraes.

Já o nacionalismo pragmático, foi representado nessa primeira geração por Pinheiro Machado. Político gaúcho, ele buscou articular habilmente os variados interesses políticos existentes nos anos iniciais da República. Perspicaz, percebeu que um confronto aberto entre forças nacionalistas e não nacionalistas era inviável tendo em vista a desorganização e incipiência dos primeiros. Ademais, "de um modo geral, contudo, devido aos seus antecedentes gaúchos e à sua inclinação para o castilhismo e para o florianismo, procurou promover um forte governo central e combater o monopólio de fato exercido por São Paulo e Minas Gerais" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 52). A sua morte prematura, porém, fez com que o nacionalismo pragmático não tivesse vida orgânica na segunda geração a ser analisada no próximo capítulo.

Capítulo 03 - Um nova geração - agitação nacionalista e rebelião (1914-1929)

Esse terceiro capítulo é subdividido em 03 partes: A) Tendências gerais; B) Desenvolvimento intelectual - Revista do Brasil, Semana de Arte Moderna, Movimento Modernista, Paulo Prado e À Margem da História da República; C) Desenvolvimento político - Liberal-democrático (Ligas Patrióticas e Partidos Democráticos), Autoritário-do-centro (Tenentismo) e Conservadores (Grupos Nacionalistas e Centro Dom Vital).

O que pensava e em que contexto sócio-político se encontrava essa segunda geração de nacionalistas? Se a primeira durou de 1880 a 1914, a segunda durou de 1914 até 1929 e foi bastante influenciada pela Primeira Guerra Mundial. No plano internacional, a Primeira Guerra Mundial fazia surgir o ardor patriótico após a entrada do Brasil no conflito. Além disso, também serviu para mostrar que a economia brasileira era dependente e limitada assim como fez-se duvidar uma suposta superioridade européia sobre o país. Enquanto que no plano interno, o espírito de rebeldia e mudanças se aglutinavam contra as forças que hegemonizavam a República Velha. O pensamento de valorização dos aspectos da modernidade mais à crítica as velhas forças dominantes era a base ideológica dessa nova geração, marcada pelo Modernismo e Tenentismo. Nesse período a vertente autoritário-do-centro ganha mais força que as demais, principalmente, pelo prestígio dado ao Exército Brasileiro após sua participação no conflito mundial.

No plano intelectual, tivemos o desenvolvimento da preocupação em entender o país. Dentre as expressões dessa tentativa, o autor destaca as seguintes:
  • Revista do Brasil - chefiada por Monteiro Lobato, buscava ser "um núcleo de propaganda nacionalista, estimulando os jovens escritores a apresentarem estudos sobre os principais problemas do país e as raízes históricas da cultural brasileira" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 62). O papel da revista era entender o país, compreender a natureza da brasilidade e assim se aproximar da realidade brasileira. Vários eram os pontos de vista dos autores que nela trabalhavam, seja o estudo da história do país ou um enfoque mais antropológico em que visava entender a variedade étnica e regional do país. A preocupação de Euclides com o sertão foi personificada na obra de Monteiro Lobato que criou o personagem Jeca Tatu, homem do campo desnutrido e supersticioso que vinha demonstrar o esquecimento do litoral sobre o interior; 
  • Semana de Arte Moderna e o Movimento Modernista - no plano artístico, tivemos a semana de arte moderna em 1922. A ideia era demonstrar, através das artes, à crítica ao velho e a busca pela construção do novo que deveria ser baseado numa reconstrução cultural. Porém, o movimento modernista que dessa semana de arte resultou, não tinha engajamento político suficiente para intervir na realidade. Além disso, passou por uma cisão. De um lado os antropofágicos, posteriormente vinculados ao pensamento político de esquerda, que inicialmente trabalharam com a idealização do nativo passando para uma defesa dos mais pobres tanto da vida urbana quanto da vida rural. Do outro os verde-amarelo ou anta, posteriormente vinculados ao pensamento político de direita, que estavam preocupados na união dos vários elementos constitutivos da sociedade brasileira a fim de construir uma nação. A educação das massas e a acusação de que os antropofágicos eram cosmopolitas, também eram ideias presentes nessa vertente do Modernismo; 
  • À Margem da História da República - assim como a Revista do Brasil, buscava compreender o país e seus desafios. Porém, acrescenta-se sua preocupação com o engajamento político da nova geração que surgia. O estudo objetivista do país, baseado nas novas metodologias científicas das Ciências Sociais, era outra ideia presente. As mudanças que o país deveria passar não eram a base de nenhuma revolução armada, pelo contrário, a reconstrução pautada deveria ser dentro de uma "revolução branca". Após o estudo adequado do país, "apresentava uma fórmula de medidas "cientificamente" determinadas que levariam a uma espécie de Estado nacional cooperativo, sindicalista, que preservaria os direitos da liberdade privada, mas exigiria a justificação como função social" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 69). Para isso, era defendido um governo forte com papel ativo na sociedade e mantendo uma relação exterior nacionalista.  
No plano político, as variadas vertentes do nacionalismo brasileiro tiveram suas atuações representadas por vários movimentos. Os nacionalistas liberais-democráticos, organizados nas Ligas Patrióticas e Partidos Democráticos, representavam a oposição civil a República Velha focando suas ações políticas na educação e na propaganda. Seu objetivo era mobilizar a opinião pública contra os oligarcas. Diferente da primeira geração de liberais-democráticos, a segunda passou a firmar uma aliança com os militares tendo em vista o prestígio do Exército frente as massas após sua entrada na Primeira Guerra Mundial. Além desse motivo, os liberais-democráticos passaram a enxergar nos militares um importante meio de educar as massas, tendo em vista o serviço militar obrigatório oficializado em 1916. A instrução militar obrigatória teria papel fundamental na difusão de uma educação cívica nacionalista que almejavam, sendo um forte aliado do sistema educacional primário e profissional. Descentralizados, os nacionalistas liberais-democráticos não conseguiram construir nessa conjuntura uma organização ou uma liderança que unisse suas pautas. Dentro dessa vertente, encontramos uns mais conservadores que objetivavam apenas uma participação eleitoral maior das classes médias urbanas até mais revolucionários que superavam as propostas de Rui Barbosa no que tange a inserção dos mais pobres aos benefícios da sociedade brasileira. Porém, o que mais predominou nessa corrente foi a presença dos moderados que se organizaram tanto no Partido Democrata de São Paulo quanto no Partido Libertador do Rio Grande do Sul, mais tarde unidos no Partido Democrático Nacional. Nos programas desses partidos, porém, encontramos "pouca atenção à questão social, preocupando-se, acima de tudo, com a necessidade de uma reforma formal da Constituição, que quebrasse o monopólio político de fato exercido por diversas oligarquias estaduais" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 72)

A vertente autoritário-do-centro teve no tenentismo sua expressão política. Herdeiros do florianismo e hermismo, o movimento tenentista durou toda a década de 20 apesar de sua desorganização e não definição ideológica. Os tenentes se viam como restauradores da ordem e sua pauta se resumia a moralização da vida política, então afetada pelos oligarcas. Por estarem ligados aos meios militares, o tenentismo representou uma crítica mais contundente a República Velha em comparação com os liberais-democráticos. Enxergavam na possibilidade de tomar o poder pela força, caso fosse necessário, rompendo com as formalidades democráticas dos liberais. Foram ponta-de-lança das principais revoltas na década de 20 contra a República Velha, sendo os principais responsáveis pela chamada Revolução de 30. 

Por fim, os nacionalistas conservadores finalmente aceitaram a República e passaram a propor outras medidas que não fossem a volta ao sistema monárquico. Agora a busca era pelo fortalecimento da República, tendo em vista o estado anárquico estabelecido nos anos de 1920. Para manter a unidade nacional e a estabilidade era preciso recorrer a antigas identidades do país. A principal delas era o Cristianismo, representado pela Igreja Católica. Vinculados ao Catolicismo e não chegando a formar um partido político, os conservadores fizeram de espaços como o Centro Dom Vital seu palco para agirem politicamente. A principal figura do nacionalismo conservador foi Jackson de Figueiredo, então fundador do Centro Dom Vital. Atacando a "satânica" revolução, os conservadores atacavam liberais, socialistas, comunistas, maçons, protestantes e anarquistas. Apesar de pouco representativos na conjuntura política da época tomada pelo ardor revolucionário, os nacionalistas conservadores "criaram, pela primeira vez no Brasil, uma escola claramente definida de pensamento nacionalista de direita, como serviram de ligação entre duas facções políticas mais engajadas na política: os monarquistas da geração anterior e os integralistas de sua própria geração" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 77)

Capítulo 04 - Predomínio nacionalista - Fluidez e confusão (1930-1937)

Esse quarto capítulo é subdividido em 03 partes: A) Tendências gerais; B) Desenvolvimento intelectual - A "Brasiliana", Gilberto Freyre, A "Coleção Azul" e "Problemas Políticos Contemporâneos"; C) Desenvolvimento político - Liberal-democrático (Aliança Liberal, Partidos Democráticos e Facções); Autoritário-do-centro (Tenentismo); Progressista-conservador (Ação Católica) e Pragmático (Getúlio Vargas). 

Como ponto de partida, o autor destaca que na conjuntura pós-1930 ocorreu uma união entre intelectualidade e atividade política estando os primeiros mais envolvidos nos problemas nacionais. Além disso, os políticos profissionais agora buscavam base ideológica na intelectualidade para agirem na esfera política. Logo, encontramos uma conjuntura diferenciada tendo em vista que durante toda a República Velha os intelectuais se mostraram distantes da política no seu sentido institucional do termo. A causa de tudo isso foi a Revolução de 30, acontecimento histórico que levou à cena política o embate entre Regionalismo x Nacionalismo. O primeiro representado por São Paulo e o segundo pelas oligarquias dissidentes. Os nacionalistas se juntaram num bloco eleitoral chamado Aliança Liberal que uniu tanto liberais-democráticos (com seus Partidos Democráticos) quanto autoritários-do-centro (representados pelos tenentes). O pós-30 ofereceu, tanto aos intelectuais quanto aos políticos, vários desafios. Na esfera econômica, o recém imposto Governo Provisório chefiado por Getúlio Vargas precisava estancar a crise no país tendo em vista a alta produção de café acumulada a queda do seu preço no mercado internacional. No plano político e cultural, era preciso combater as velhas forças regionalistas que se movimentavam para uma reação, assim como inibir o desenvolvimento de ideologias estrangeiras como o comunismo e o fascismo que começavam a se expressar no país. Tudo isso deu maturidade aos intelectuais e políticos daquela conjuntura, sendo o começo dos anos dourados do nacionalismo brasileiro. 

No plano intelectual, o autor começa destacando o papel exercido pela "Coleção Brasiliana" que tinha como editor Fernando de Azevedo. O objetivo "era popularizar o sério exame da realidade nacional proposto inicialmente por Euclides e a que mais tarde fizeram eco, coletivamente, os membros da nova geração sem se limitarem a quaisquer disciplinas particulares e sem adotar um só e único ponto de vista nacionalista" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 87/88). A preocupação desses autores era mais com a crítica social, tendo os fundamentos das Ciências Sociais em voga, que com as formas literárias que marcaram os anos de 1920. Entre os autores que contribuíram estiveram Oliveira Vianna, Azevedo Amaral e Afonso Arinos. Obras de precursores como Alberto Torres, José Bonifácio e Tavares Bastos eram debatidas. Relatos de viagens e textos do tempo colonial também foram traduzidos. 

Ainda no campo da intelectualidade, encontramos a obra do pernambucano Gilberto Freyre. Freyre, que também contribuiu para a "Coleção Brasiliana", tinha em suas preocupações encontrar as raízes da identidade nacional. Em busca disso, mostrou em seus obras uma imagem positiva dos brasileiros. O choque de diversas etnias e culturas durante a história do país, possibilitou uma forma característica de sociedade no qual deveríamos nos orgulhar. Para ele, "a miscigenação racial e o amálgama cultural haviam criado o núcleo de um novo tipo de sociedade "luso-tropical" na América, como lançado as bases de uma variedade sui generis de democracia étnica e social" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 89). Segundo a teoria freyriana, a identidade nacional brasileira só seria encontrada se ocorresse primeiramente um sistemático estudo das realidades regionais do país. A partir dos estudos regionais, "a essência da cultural nacional poderia ser compreendida com maior clareza, quando o movimento nordestino e outros novos movimentos regionalistas se unissem e concentrassem a sua atenção nos valores culturais que ultrapassassem o plano regional para assumirem uma significação mais largamente nacional" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 90). O formador dessa civilização brasileira diferenciada é, em Freyre, a região Nordeste que permanece sendo um forte centro dinâmico de mistura cultural. 

Defendendo uma espécie de "panlusitanismo" (termo utilizado por Ludwig Lauerhass), Freyre afirmava que era incontestável a presença lusitana e católica na unidade nacional. Essa essência, bem típica na sociedade tradicional nordestina, deveria ser preservada e protegida da influência germânica que crescia com os imigrantes. Sobre a política nacional, sua visão era de que era preciso instituir um governo que respeitasse as tradições e estivesse atento as necessidades sociais do país. A figura de Vargas era elogiada pelo antropólogo, pois ele conseguia conciliar um governo central com um respeito as diversidades regionais. 

Outra manifestação intelectual nacionalista do tempo foi a "Coleção Azul" que durou de 1932 até 1933 sob edição de Augusto Frederico Schmidt. Entre algumas ideias desses intelectuais, podemos citar: a preocupação com o caos causado pós-30, a necessidade de impor um governo forte que acalmasse os ânimos, a preocupação do engajamento intelectual na vida política e a crítica a qualquer solução externa como o fascismo italiano, o comunismo internacional e o sistema liberal democrático baseado no federalismo norte-americano. A ideia era criar uma solução genuinamente nacional a problemas nacionais. O principal intelectual da "Coleção Azul" foi o sociólogo Virgínio Santa Rosa que procurava dar valorização à ordem política mesmo que ela custasse à liberdade. Entre suas propostas estava uma maior centralização do governo federal que deveria combater as oligarquias estaduais servindo como árbitro em prol da nação. Com isso, 
"Os trabalhadores deveriam ser organizados em sindicatos e os seus direitos protegidos pela legislação social. Poderiam ser organizados cooperativas de produção e consumo, e seriam nacionalizados os recursos naturais de importância vital, como as minas. Além disso, Santa Rosa considerava a reforma agrária como absolutamente indispensável para completar a revolução, não somente com a melhoria social e a integração econômica das massas rurais, como também na luta contra o poder das oligarquias" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 93).
Por fim, "Problemas Políticos Contemporâneos" editada por José Olympio, tinha como objetivo analisar a conjuntura da época sob base da teoria política. Mais parcial que as demais, aglutinava teóricos conservadores e ligados ao movimento integralista. Os caminhos democráticos eram rechaçados, assim como o crescimento do movimento comunista. Os intelectuais reunidos aqui se mostraram com um posicionamento autoritário e anticomunista.

No plano político os nacionalistas liberais-democráticos aglutinaram-se na Aliança Liberal que, em sua plataforma, basicamente seguia o pensamento político de Rui Barbosa principalmente a sua última fase onde encontramos uma preocupação maior com o proletariado. Após a Revolução de 30, alguns setores dessa vertente se afastaram de Vargas por ele não reconstitucionalizar o país. Foi o caso do Partido Democrático de São Paulo que já em 1932, estaria nas fileiras contra-revolucionárias. Faltava, naquela conjuntura, lideranças e maior unidade ideológica entre os liberais-democráticos que se mantiveram a mercê das ações políticas das outras vertentes. Em contraste, os autoritários-do- centro se viram melhor posicionados após a Revolução de 30 que os liberais-democráticos. Por transmitirem mais confiança a Vargas, receberam cargos importantes no governo e acabaram se consolidando. Tentaram radicalizar o processo, organizados no Clube 3 de Outubro que tinha uma forte inspiração nas ideias de Alberto Torres, mas após o fracasso das forças regionalistas de São Paulo o grupo foi enfraquecido por Vargas. Mesmo assim, a lealdade dos autoritários permaneceu até o fim do Estado Novo.  Já os nacionalistas conservadores, agora liderados por Alceu Amoroso Lima, mantinha sua aproximação com a Igreja Católica e apesar de manter boas relações com os integralistas não se vincularam publicamente ao movimento. Opondo-se ao liberalismo e ao socialismo, reunia as ideias políticas de Jacques Maritain com o programa econômico de Alberto Torres. Sua tarefa, "visava à pacífica e gradual instituição de um regime moderno, neotomista, baseado em uma união funcional da Igreja e do Estado" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 100).

Getúlio Vargas representou então o ressurgimento do nacionalismo pragmático. Agindo habilmente, utilizou de ideias políticas de várias vertentes, mantendo alianças com diversos setores do nacionalismo brasileiro. A plataforma da Aliança Liberal em que defendeu como candidato a presidência, tinha uma forte presença das ideias dos liberais-democráticos. Após 1930, porém, ele expressa suas tendências autoritárias na construção e manutenção do Governo Provisório. Entre suas ações, observamos uma maior sensibilidade com os problemas sociais dos mais pobres, garantindo uma série de direitos trabalhistas e sociais a esses setores. O autor destaca algumas medidas pré-1937 que foram construções para o futuro Estado Novo, como: reorganização do Exército, fortalecimento da polícia, centralização administrativa e a fundação do Departam0ento Nacional de Propaganda (DIP).

Capítulo 05 - Nacionalistas intrusos: comunismo e fascismo

Esse quinto capítulo é subdividido em 03 partes: A) Tendências gerais; B) Desenvolvimento intelectual - Caio Prado Júnior, Leôncio Basbaum, Plínio Salgado e Gustavo Barroso; C) Desenvolvimento político - Comunismo, Nacionalismo e a Frente Popular (ANL) e Nacionalismo Integral.

Desiludidas com a democracia liberal e inspirados em ideologias vindas do exterior, duas vertentes radicais se desenvolveram no Brasil dos anos 30. A primeira tinha inspiração na esquerda, influenciada pela URSS e o Socialismo Científico de Karl Marx, aglutinada no Partido Comunista do Brasil (PCB) e na Aliança Nacional Libertadora (ANL). A segunda tinha inspiração na direita, admiradora do Fascismo Italiano e aglutinada na Ação Integralista Brasileira (AIB). Em ambas correntes, encontramos um forte teor dogmático em suas ações e interpretações. Ambas tiveram um crescimento significativo após a Constituição de 1934 que não resolvera os problemas políticos e sociais do país. Sendo assim, a polarização entre essas vertentes radicais vão marcar o campo do nacionalismo brasileiro até o triunfo do Estado Novo em 1937. Bem organizados, esses movimentos tinham uma forte e disciplinada organização partidária que os colocaram à frente das demais correntes do nacionalismo brasileiro. O envolvimento de intelectuais também foi comum, passando esses de meros pensadores para dirigentes políticos.

No campo intelectual, o autor começa fazendo uma análise dos envolvidos com o nacionalismo radical de esquerda. O historiador Caio Prado Júnior é o primeiro a ser mencionado. Caio procurou em suas obras, sob um ponto de vista marxista, trazer uma análise diferente do Brasil que não fosse limitada a mera enumeração de acontecimentos. O período colonial tem grande importância para esse autor na busca de entendimento do Brasil, sendo o embate entre a aristocracia nacional e a burguesia burocrática portuguesa o principal palco de conflitos. Essa aristocracia, organizada no Partido Brasileiro, será a responsável pela Independência do Brasil em 1822 e as revoltas durante o Império mostram a disputa pelo poder de outras classes sociais como os setores médios urbanos. Outro intelectual ligado à esquerda foi Leôncio Basbaum. Esse, mais doutrinário que Caio Prado, não escondia suas simpatias pela URSS e o marxismo-leninismo. Em sua interpretação, o Brasil era um país semi-feudal dominado por latifundiários aliados das forças imperialistas. A burguesia industrial existente também estava aliada a interesses internacionais. Logo, "o imperialismo estava impedindo a natural luta de classe feudal-burguesa" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 115). Restava, pois, ao proletariado urbano e rural vencer tanto o imperialismo quanto os seus representantes no país. O caminho para a revolução socialista estava na construção de um Partido Comunista forte que fosse vanguarda da luta dos oprimidos.

Saindo dos intelectuais ligados à esquerda, o autor vai para Plínio Salgado, então fundador do movimento Integralista. Diferente dos seus adversários, Plínio foi bem menos cosmopolita. Entre suas influências, temos: Jackson de Figueiredo, Alberto Torres, Euclides da Cunha. De fora, trouxe influências do evolucionismo, neotomismo, neo-romantismo e irracionalismo. Os erros do Brasil para ele giravam em torno do racismo, cosmopolitismo, regionalismo e sentimento de inferioridade. Tudo isso deveria ser combatido com base num novo estado de espírito, uma espécie de transformação moral nacionalista que unificasse a mentalidade nacional. A mudança viria primeiro de uma mudança moral para depois ser material. A ordem, o equilíbrio e a não luta de classes eram ideias presentes em Plínio. Seu combate ao liberalismo e comunismo também merece destaque, sendo ambos frutos da decadente sociedade burguesa. No outro pensador integralista, Gustavo Barroso, vemos altas doses de anti-semitismo. O capitalismo, o comunismo e o judaísmo são forças destruidoras da sociedade brasileira que merece combate. Em sua visão, "as principais tarefas do integralismo consistiam em denunciar aquela conspiração, desmascarar os traidores nela envolvidos, apontar os erros básicos do liberalismo e do comunismo e criar uma nova democracia orgânica, corporativa e cristã, baseada na trindade Família, Pátria e Deus" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 119).

No plano político, os nacionalistas radicais de esquerda se organizaram no Partido Comunista do Brasil (PCB) que fora fundado em 1922 mas só ganhou importância nacional após a filiação do ex-tenentista Luís Carlos Prestes. Após o seu "Manifesto de Maio", Prestes se aproximou de dirigentes políticos marxistas e logo depois se converteu ao marxismo. Após a entrada de Prestes e sua volta do exílio, fundou-se a ANL que tinha como intuito ser uma grande frente popular anti-fascista que combatesse o avanço do integralismo e também do Governo Vargas. Entre as propostas da aliança, temos: "suspensão do pagamento de todas as dívidas externas imperialistas, a imediata nacionalização das empresas imperialistas, a redistribuição dos latifúndios e proteção aos pequenos e médios proprietários rurais, o livre exercício das liberdades públicas e a criação de um governo verdadeiramente popular" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 122).

A Ação Integralista Brasileira (AIB), não tinham uma relação direta e oficial com o exterior, apesar da simpatia dos seus integrantes pelo fascismo italiano. Italianos e alemães que buscaram exercer influência sobre os integralistas, apesar de criarem seus próprios movimentos no país. A simpatia pelo fascismo ocorreu por conta de Plínio Salgado que chegou a visitar a Itália. O anticomunismo e o nacionalismo conservador representados pelo Centro Dom Vital, Jackson de Figueiredo, Alceu Amoroso Lima e Oliveira Vianna são as principais inspirações ideológicas da AIB a nível nacional. Entre suas ideias estavam a criação de um Estado forte, respeitando a propriedade privada e assegurando os direitos sociais dos trabalhadores. A família era reverenciada, tendo em vista sua forte influência no Catolicismo e sua concepção de que representavam toda à nação os colocavam acima de um partido político. Suas ações se voltavam para o campo cultural, combatendo acima de tudo a conspiração comunista.

Capítulo 06 - O triunfo do nacionalismo - O Estado Novo (1937-1945)

Esse quinto capítulo é subdividido em 03 partes: A) Tendências gerais; B) Desenvolvimento intelectual - Francisco Campos, Azevedo Amaral e Cultura Política; C) Desenvolvimento político - Razão de ser e natureza geral do Estado Novo, Eficiência política e centralização do Estado, Combate ao regionalismo, Protecionismo e desenvolvimento econômico, Patriotismo, Justiça social e Identidade nacional.

Com o golpe de Estado em novembro de 1937, o nacionalismo brasileiro chega a seu apogeu. Ele deixa de ser apenas uma reflexão intelectual ou um programa governamental isolado para se tornar a base do governo rumo a um desenvolvimento sócio-econômico mais amplo. Os constantes conflitos das vertentes nacionalistas radicais, representados pela ANL/PCB e AIB, foram a justificativa para o golpe. O nacionalismo do Estado Novo reunia aspectos do florianismo, hermismo, tenentismo e do pragmatismo político de Getúlio Vargas. Entre as condições internas e externas que contribuíram para o Estado Novo, temos:
"A rápida urbanização, o impulso para a industrialização, o crescimento do proletariado, as ameaças de subversão o colapso político, a maior desilusão com os processos democráticos, a popularidade pessoal de Vargas, a apatia pública, o sucesso dos regimes autoritários na Europa e na América Latina e a crescente rivalidade entre o Eixo e as potências ocidentais" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 134).
O Estado Novo reprimiu a intelectualidade radical, tanto à esquerda quanto a direita do espectro político. Permitiu o desenvolvimento da literatura nacionalista que se alinhasse, totalmente ou parcialmente com o novo regime. Permitiu um grande espaço para ideólogos oficias ou quase oficiais como Francisco Campos e Azevedo Amaral. E, usando o DIP, organizou a revista "Cultura Política" com o intuito de movimentar outros intelectuais simpáticos ao regime. Pelo rádio e outros meios de propaganda, buscou divulgar a população as façanhas conquistadas por Vargas. Assim sendo, "o autoritarismo do Estado Novo, não provocou, pela subversão ou pelo terror, o eclipse da produtividade intelectual nacionalista" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 135). Houve, então, um amadurecimento do nacionalismo brasileiro e Vargas conseguiu conquistar um alto grau de consenso ao vincular o nacionalismo com os necessários processos modernizantes que o país passava.

No plano intelectual, Francisco Campos representa para Lauerhass o teórico mais contribuinte com a ideologia nacionalista do Estado Novo. Atuante durante o processo revolucionário de 30, Campos chegou a ocupar o cargo de primeiro Ministro da Educação do Brasil. Justificando o golpe de novembro de 1937, Campos afirmara que o clima de desordem instaurado pelas disputas entre extremistas (comunistas e integralistas) era um problema do dia que os dispositivos constitucionais legitimados em 1934 não davam conta da sua solução. O medo de uma guerra civil, tendo em vista a conspiração comunista em 1935, foi a causa principal do surgimento do Estado Novo que contou com o apoio das Forças Armadas e também da opinião pública. Porém, o Estado Novo não representava apenas a momentânea tranquilidade ao país. Também representava, finalmente, as retardadas esperanças dos revolucionários de 30 em pôr em prática suas esperanças. Campos, "tentou incorporar as realidades e aspirações brasileiras a um plano teórico de Estado, cujos atributos principais eram a força, a disciplina e a eficiência" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 137).

Campos ainda acreditava que era preciso substituir uma democracia "formal" por uma "substantiva", tendo em vista que os dispositivos da democracia liberal não resolvia a crescente instabilidade política no país. Logo, "a nova constituição estava lançando uma forma mais direta de democracia, responsável perante o povo em seu conjunto e na qual os direitos individuais seriam limitados e equilibrados com os direitos de toda a comunidade nacional" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 137). A vontade na nação estaria acima de interesses individuais ou de pequenos grupos. As ideias de Campos se aproximam das proferidas, anos antes, por Alberto Torres em considerar de extrema importância a instauração de um governo forte e nacionalista como pré-condição do desenvolvimento econômico e social brasileiro. Na economia, Campos defendeu um sistema corporativista onde a intervenção estatal fosse alargada. Embora jamais posto em prática, a Constituição de 1937 previa a criação de um Conselho Econômico Nacional, órgão responsável pela regulamentação da economia nacional. Enquanto que no plano educacional, Campos propunha um sistema educacional integrado a sociedade civil. Em suma, a educação puramente intelectual de origem liberal deveria ser substituída por outra mais completa que abarcasse uma instrução moral e cívica de cunho nacionalista. Campos enxergava na educação, "um meio de preparar cidadãos para cumprirem as suas obrigações para com a nação e proporcionar-lhes os instrumentos para cumpri-las com a eficiência exigida pela sociedade moderna" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 138).

Azevedo Amaral, outro apologista do Estado Novo, seguia o argumento de Francisco Campos na justificativa do regime. Acreditava que estava de acordo com o desenvolvimento histórico do Brasil e representava a junção entre nação e Estado. A inspiração que o Estado Novo deveria ter para Azevedo, era o "New Deal" de Franklin Roosevelt. O objetivo era preservar o sistema capitalista, suas ideias de individualismo econômico, mas defendendo também os interesses públicos. Seguindo um posicionamento diferente do hegemônico, Azevedo não enxergava com bons olhos os dispositivos constitucionais que limitavam à imigração e também a presença de capital estrangeiro na economia brasileira. Outro destaque dado por Azevedo é a figura política de Getúlio Vargas, considerado como "Chefe da Nação". O consenso angariado por Vargas tinha como causa "a sua não vinculação a um sistema ideológico e à ausência de fanatismo doutrinário - o que lhe dava a necessária flexibilidade para lidar efetivamente com qualquer que fosse o problema específico do momento. Assim, Getúlio tornou-se o mais consumado realista político e ao mais pragmático líder nacionalista de seu tempo" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 141).

A revista "Cultura Política" também representou grande importância no aparato ideológico do Estado Novo. Ao contrário de outras revistas já mencionadas, a "Cultura Política" representava uma criação direta do governo com o intuito de aprofundar os estudos sobre o Brasil. Sob direção de Almir de Andrade, a revista foi cria direta do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Logo se tornaria o principal órgão teórico do novo regime. A "Cultura Política" mostrou não só divulgar os feitos do novo regime como conscientizar a nação dos rumos fundamentais que o Brasil precisava passar, mostrando ao mesmo tempo que as ações políticas do momento nada mais eram que a concretização de ideais nacionalistas anteriores como as formuladas por Alberto Torres. Dentre as temáticas abordadas pela revista, destaca-se uma variedade de temas nacionais:
"Esses assuntos corriam toda a escala das questões nacionais - da mudança do papel da mulher na sociedade à necessidade de uma nova capital para o país, do bem-estar social à preparação militar, das relações raciais à reforma do serviço público civil, do folclore à produção siderúrgica, da educação primária à abertura da navegação no Amazonas - mostrando assim que Vargas e o seu governo se preocupavam com todos os aspectos da vida nacional" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 142)
Em seus artigos na revista, Almir de Andrade mostrava a necessidade de unir política à cultura, fato então negligenciado pela fracassada democracia liberal que ruía com o advento do Estado Novo. Essa junção, permitia vigorosa consciência política que permitiria a uma afirmação cultural mais incisiva do brasileiro.

Na última parte do capítulo, onde o autor destaca as implicações do Estado Novo no plano político opto por destacar suas ações em tópicos que o próprio autor utiliza no sumário para um melhor entendimento. Segue em voga:
  • Razão de ser e natureza geral do Estado Novo - A justificativa do Estado Novo girava em torno das ideias já expostas por Francisco Campos e Azevedo Amaral. O golpe era a instauração da paz social, contra as disputas políticas extremistas, o desenvolvimento da luta de classes e a neutralização do comunismo. O novo regime se sustentava em ideias de intelectuais brasileiros, não aceitando receitas prontas do exterior. Apenas a preservação da ordem poderia ser pré-requisito para o desenvolvimento econômico e social do país;
  • Eficiência política e centralização do Estado - A centralização política do novo regime colocou um poder gigantesco nas mãos de Getúlio Vargas que, basicamente, governou por meio de decretos. O monopólio sobre a administração pública foi sancionada através da criação do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) que tinha como objetivo formar uma elite técnica e apolítica que combatesse a velha burocracia nepotista e criasse uma nova moral na gestão pública. A formação de novos burocratas, elevados moralmente sob um espírito nacionalista, seria outra tarefa do DASP além da administração pública em si; 
  • Combate ao regionalismo - Vargas reduziu o poder dos estados ao trazer de volta à tona as figuras dos interventores, nomeados diretamente pelo Poder Executivo Federal e devendo a ele responsabilidade. Além disso, desmembrou o DASP para os estados a fim de racionalizar e nacionalizar as funções administrativas estaduais. Eram os apelidados "daspinhos". Simbolicamente, proibiu o uso de bandeiras estaduais (artigo 02 da Constituição) e apenas símbolos de cunho nacional eram permitidos. Apesar disso, nunca deixou de salientar a necessidade de desenvolver regiões historicamente atrasadas como o Norte e o Nordeste. Sendo a personificação do novo regime, Vargas rodou o país durante os anos do Estado Novo, feito nunca visto antes na história do país; 
  • Protecionismo e desenvolvimento econômico - No campo econômico, o Estado Novo se preocupou com o desenvolvimento do mercado interno e a diversificação da economia nacional então limitada  alguns produtos agrícolas. Para isso, medidas protecionistas foram tomadas como: suspensão do pagamento da dívida pública, controle cambial, prioridades para as importações, crédito expandido e incentivos tributários ao desenvolvimento industrial e agrário. A substituição das importações era política oficial do Estado Novo e apesar da intervenção estatal na economia, os industriais apoiaram à ditadura. O combate ao capital estrangeiro também foi muito presente durante o Estado Novo. A indústria siderúrgica nacional desenvolvida pelo novo regime teve capital misto, contendo investimento público e privado. Porém, estritamente capital nacional. A proporção de empregados brasileiros também foi posta em prática, combatendo os imigrantes. A construção da Usina de Volta Redonda foi o marco principal do regime, sendo usado por Vargas como o grande símbolo do desenvolvimento econômico nacional. A obra, "representou o alvorecer de uma nova era industrial, que iria sobreviver ao Estado Novo, e atestou, simbolicamente, a capacidade do Brasil tornar-se, no campo econômico, um moderno Estado nacional" (LAUERHASS, Ludwig. São Paulo, 1986, Itatiaia, p. 147)
  • Patriotismo - O ardor patriótico foi desenvolvido pelo Estado Novo contra os imigrantes europeus instalados no país. Objetivando inibir esses setores, Vargas tomou medidas como: proibição de atividades políticas de estrangeiros, controle da imigração, deportação em caso de participação em atividades políticas, proibição de colônias de imigrantes isoladas, proibição de jornais e aulas em língua estrangeira, proibição de nomes estrangeiros em localidades e maior assimilação dos filhos desses imigrantes por parte do serviço militar obrigatório. A consciência nacional e sua integridade passava pelo combate as influências estrangeiras; 
  • Justiça social - A justiça social, de cunho paternalista e assistencialista segundo o autor, foi garantida após uma série de direitos trabalhistas garantidos como: salário mínimo, direito a férias, melhores condições de trabalho, assistência médica, expansão do ensino técnico e profissional etc. Ao mesmo tempo, Vargas buscou eliminar a influência radical (comunista, principalmente) no movimento sindical e centralizou no Ministério do Trabalho a sanção de fiscalizar os sindicatos; 
  • Identidade nacional - Buscando criar uma consciência nacional, o Estado Novo entre várias iniciativas implementou: o Instituto Nacional do Livro, ação do Ministério da Educação chefiado por Gustavo Capanema, que buscava popularizar escritos sobre a cultura nacional. Além disso, desenvolveu nas escolas a importância em desenvolver valores cívicos como a nacionalidade, o vigor físico, a moralidade, o trabalho etc. O DIP também exerceu forte influência na construção dessa identidade, seja em filmes ou através do rádio. O rádio foi, inclusive, a ferramenta principal utilizada por Vargas para alcançar a maior parte dos brasileiros. 
Capítulo 07 - O triunfo comprometido: o fim do Estado Novo

Por fim, Lauerhass encerra o livro comentando aspectos que deram fim ao Estado Novo como faz análises sobre o que ocorreu depois. Com o fim do Estado Novo, o poder estadual voltou a ser exercido com a volta dos governadores eleitos. O DASP foi fortemente atacado, perdendo sua antiga hegemonia. Na economia, os antigos valores liberais voltaram à tona, acompanhada de um enfraquecimento das políticas protecionistas. A moral nacionalista incentivada, foi substituída por um cosmopolitismo e os esforços pela garantia da justiça social foi novamente negligenciado pelo Estado. Sem o apoio dos militares, Vargas caiu através de um golpe em outubro e 1945. No plano intelectual, os marxistas surfando no prestígio da URSS pós-guerra cresceram sua influência em espaços como "Revista Brasiliense" e "Estudos Sociais". Grupos mais heterogêneos de estudos sobre o país foram aglutinados no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), sob patrocínio do Governo Federal. No plano político, o autor destaca o crescimento do nacionalismo conservador capitaneado pela figura de Carlos Lacerda, a morte do nacionalismo pragmático após o suicídio de Vargas em 1954, o enfraquecimento da vertente liberal-democrática e o isolamento dos autoritários na Escola Superior de Guerra só voltando a cena política após 1964. 

















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